domingo, 31 de julho de 2011

A planta de agosto.

Pus um pouco de adubo.
E uma plaquinha:
"Não ponha os pés."

Me habitei. Corri pra dentro de casa aos pulos.
As raízes afundavam mais e mais.
Me perguntava se não era bambu chinês.
Fui contar da planta. Cuidar da planta.
As folhas eram verdinhas, o talo era bonitinho.
Quando chovia, me sentava junto.
Sentia crescer folhas em mim, ela me habitava.
E eu chovia.

"Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé"

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Irremediável Imperfeição.

Aquela amargura, sensação de grão de areia. Algo vem acontecendo no plano astral, ou qualquer , outro plano desses aí. E eu venho me apreendendo cada vez mais, embora o corpo (treme de frio, mas não sinto) não saia do quarto. A alma vaga, o corpo cansa. Venho mexendo em tudo que é canto, mas sa minhas coisas se moldam sozinhas. Elas não aceitaram o canto que as dei, mudam-se o tempo todo. Elas se põem em seus cantos. É tanta verdade, tanta mudança! É muito espaço, pra pouco eu. Vadiar por entre esses espaços, vácuos suspensos de pura energia potencial, me deixa atônito. Não que seja oco (tem a energia, como disse). Mas eu, sou eu que ando por ali, são meus passos que ouço, minha voz, é minha imagem que vejo. Esse poço frio, sem luar. Águas turvas, vento sujo e lento. Túrgido de ternura, me enfrento. Cumplicidade poética comigo mesmo. Preciso me buscar, imperfeito mesmo. Me fazer verbo intransitivo, quem sabe.
Essas coisas que se espaçam têm me consumido. Mergulhei nesse poço, é fundo e sem luar. Limbo estético provisório onde faço casa. Daqui de dentro, dá vontade de amar. Sério, isso! Os limites da minha lucidez estão com data de vencimento, posso ver já o horizonte meio trêmulo. Ah, não. São só os reflexos dessa água aqui, os ecos das explosões e implosões internas que viajam.
Mas quero que venha. Quero abrir essa casa de vez. Inaugurar meu novo habitar-me ao teu lado, sob esse poço sem teto, ou teto quebrado. Dizer do meu passado, do meu futuro incerto e do meu impossível hoje, o qual, soberano como é, auto intitula-se presente.


"No fim desses dias, encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem... "

sábado, 23 de julho de 2011

Sobre o estranho-inevitável.

As tragédias acontecem e ninguém se dá conta. Verdadeiras catástrofes permeiam qualquer dia dito comum. Tudo não vemos, tudo sempre alheio à própria condição. Estamos longe o bastante pra dividir a dor. A antropofagia parece ser simplesmente ideológica, algo no plano das ideias, quase uma entidade platônica! As lágrimas embotadas parecem disfarçar qualquer eco da verdadeira dor: jogá-las pra fora parece confirmar esse sentimento 'incômodo', é o cartão-postal da tristeza de um ser. O luto, simbolizado em cores frias, incomoda. O luto traz pra si o simbolismo daquilo que não sabemos conviver. As contradições, as lutas, o devir, a passagem de um estado a outro é tratado com sarcasmo e um mínimo de excentricidade. Na minha agressividade enérgica, questiono junto à Beth da Matta: será justo dividir a dor? Não, justo não é. Nem precisa ser: é humano dividir a dor. Porque não possuir, e encontrar-se com outro, e carregar consigo as angústias do próximo? Transparece sua amargura todo o tempo, seu ar sepulcral e pálido que carrega a evanescência do seu sentir. Estende as mãos, esperando que alguém mergulhe em seus braços e ao menos lhe dê atenção. Ao menos! Talvez tudo isso seja pedir muito.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Armário

Minhas coisas me cabem.
E eu transito entre espaços (cômodos).
Elas me habitam, me casam.
Desloco-me em passos, e elas ficam,
hesitam, parecem adormecer (pedrando).
E já que não me caibo (caio),
minhas coisas me cabem.

sábado, 2 de julho de 2011

Madrugada


Vira, revira e calma.
Dessas que levam a alma.
E tudo vira pode ser.
Pó de Ser.
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