segunda-feira, 3 de junho de 2013

All lips go blue.


Todos os sorrisos fadados a serem dados ao espelho. Todas as imagens escorridas pelos poros. Todos os abraços vomitados à sede de si mesmo. Todos os beijos sofregamente bebidos - a saliva do outro a saciar a sede. Todos os olhares engolidos. Todas as palavras autistas. Todos os toques libertos. Todas as vozes jogadas. Todas as dores aproximadas. Todas as feridas canibalizadas. Todos os fantasmas amanhecidos. Todos os arrepios fornecidos. Toda a surpresa martirizada. Todo ódio crucificado por excelência. Todo costume sabotado. Toda serenidade plantada. Todos os carinhos habitados. Toda a distância feita sobriedade. Todas as perdições feitas vontade. Todas as fugas tragadas. Todos os sonhos dopados. Todos os silêncios embriagados - passos bêbados. Todos os reflexos nauseados. Todos os sonos cansados. Todos os mundos por desistência. Todas as texturas atiradas. Todos os desejos clandestinizados. Toda a fome feita corpo. Todo o corpo feito fome. 

Todo excesso por sobrevivência. 

sábado, 1 de junho de 2013

Afecção.


Agora. Nem a marca de batom na xícara. Nem o copo meio álcool, meio água, meio gelo que já derreteu. Surpreende-me a caleidoscópica ironia nos entrelaçamentos da vida. Vultos e voltas, carinhos crucificados - a coroa de espinhos no pé. Ando tonto. Equilibro nem minhas vontades. Distorcidas, extremas, entranhadas. Meu corpo é vontade. Meus prazeres não são sentidos por mim. Desejo único de ser vontade de outro, desapegar da minha pele para vestir tristonhamente os afagos e carícias eminentes. Deitado no seio, meu leito, ufanar o peito na entrega viril de mim mesmo. Meus nascimentos vomitados, entre a saliva levada de uma língua à outra. Ao avesso, sou o verso desfeito de verdade. Porque a verdade sou eu, o egoísmo que encontra seu batismo na consumação, nas mordidas. Persigo o mesmo poema, sem viver a mesma prosa - meu prosaísmo rompido. Acuso-me dos crimes passionais: dos ódios originários às refinações dos orgasmos. Volume reinventado para ser explodido em olhares, medo refeito para ser enfrentado pelos dicionários. Sou solitariamente equivocado por não dever nada a ninguém. Nem a mim mesmo, que não existo. Nas linhas matizadas, ando na corda bamba do hábito. Nas músicas, sou a guitarra que solta um solo longo, dolorido e o grito que arrepia - a voz em brasa. Inflamo, inflamo ao ressoar funebremente as últimas notas do solo. Ali, naquela agulha rompendo a pele, naquela tragada, na fumaça, no cinzeiro: sou a infusão daquilo que não dorme. O estupor da pronúncia, o desespero de ser minha própria sílaba.  
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