tag:blogger.com,1999:blog-41233797377251561782024-03-05T01:06:44.318-08:00Infinito ImpacienteAs palavras são a náusea do vazio. A solidão e a angústia, filhas da mesma substância escura da noite absoluta e impenetrável – esses dois sintomas da doença literária. Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.comBlogger80125tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-17553769328880816462013-12-22T18:56:00.001-08:002013-12-22T19:34:15.699-08:00Transpiração.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqHmkDGPPa3PGeZ4VZppxWwWJ1Up78-wpHKlqHMbqSVIKu6FuGob6S1sVlXdbJj4ALK9SM-b2LUzqSUlHmR_sJE6DHzbLV0Mehr-HTNW0MaHI0W8xnQv6eQYOShE-dJqq1M2ZU-T4L06Y/s1600/bacon.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqHmkDGPPa3PGeZ4VZppxWwWJ1Up78-wpHKlqHMbqSVIKu6FuGob6S1sVlXdbJj4ALK9SM-b2LUzqSUlHmR_sJE6DHzbLV0Mehr-HTNW0MaHI0W8xnQv6eQYOShE-dJqq1M2ZU-T4L06Y/s320/bacon.jpg" width="273" /></a></div>
<br /></div>
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<br /></div>
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Os ressentimentos não caem bem. Ficam pendendo no vão do ar. O vento de parapeito da existência. </div>
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<br /></div>
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O suor da vida escorregadia deslizando no corpo. A inspiração transpira. Não sou mais que a barba. </div>
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<br /></div>
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Para fins práticos, é impossível de se ignorar a ingenuidade dos pelos (a curva do rosto quase protegida). Em casos comuns, a maciez antepara as palavras: se embrenham na barba para saírem veludo. A inabilidade afável amansa. Nunca chegaria a ser amor, por isso. E quando o suor se perde, por uns segundos até pingar, o pescoço não suporta o peso. Amou-se muito e não amaram. A recusa palatável das separações e das saudades se explica, é claro. Não explica aproximação. Reconhece-se os papéis picados, no final.</div>
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<br /></div>
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Irrecusável, mesmo, só a incompreensão.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-40540187135889029292013-12-09T15:52:00.004-08:002013-12-09T15:52:19.268-08:00I'm so lonesome I could cry.<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeE7qlxHCRDfN-0VHWsV_RFH1un4Uzz98CIIGFOjrocYk7h615lrnqS41qovQJVC4Dla7MvYdfcSVPSiyucCM6ilphN7ORjz6lotMYTuix1xMpsUJ-eV9wGDG-CfIS99SweQvB4_Jd_Y8/s1600/tumblr_mm4kzatvAl1rbuhr4o1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeE7qlxHCRDfN-0VHWsV_RFH1un4Uzz98CIIGFOjrocYk7h615lrnqS41qovQJVC4Dla7MvYdfcSVPSiyucCM6ilphN7ORjz6lotMYTuix1xMpsUJ-eV9wGDG-CfIS99SweQvB4_Jd_Y8/s320/tumblr_mm4kzatvAl1rbuhr4o1_500.jpg" width="213" /></a></div>
<br /></div>
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Uns dias parados, como num engarrafamento. Tem uns nomes na ponta da língua, um sentimento na ponta do cigarro. Na ponta dos dedos, uns riscos. Rabiscos estranhos. A noite cai, estúpida e rápida. Como a sombra, eu sou e não sou. Meus rabiscos rascunhados, fagulhas de poemas, romances diluídos no álcool, contos mortos que permanecem na segunda nebulosa. Desenho alguns bustos, as mãos luxuriosas procuram o prazer. Na penugem da sombra, meu dom brota melodicamente. Desabam carnes e ossos: o corpo no chão, uma poça de vinho derramado. Uma raridade no beco da vida, a pita apagada na poça. A embriaguez, em retirada, se engarrafa de novo. Nubla os olhos, e acaba tropeçando em algum copo. A língua pincelando os lábios, furtando as últimas gotas, o batom é quase um vocábulo. Agora a vida jorra no papel. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-56820503261908448842013-11-25T15:07:00.002-08:002013-11-25T15:07:38.917-08:00Adágio minguante.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8T_vf8I9Y94bL-SlYN58x8s7oOkUdgcQzHo6fObStQeD-8hfpLbGqtb6Oxc-tM02o1WmIO8-HXLufq1bsYCChPm_KQMD9xSjdOYN2sW8xguROQjl9Xf-LPpKqYO1ZwD2UmlEW8Kn43tk/s1600/1459231_560947187306907_676975272_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8T_vf8I9Y94bL-SlYN58x8s7oOkUdgcQzHo6fObStQeD-8hfpLbGqtb6Oxc-tM02o1WmIO8-HXLufq1bsYCChPm_KQMD9xSjdOYN2sW8xguROQjl9Xf-LPpKqYO1ZwD2UmlEW8Kn43tk/s1600/1459231_560947187306907_676975272_n.jpg" /></a></div>
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</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre fico com o cheiro do cigarro nas mãos. Ela quem fuma. Nas despedidas, as mãos se procuram e o seu perfume, acendido com o cigarro, me aparece. Minhas mãos indigentes. As digitais todas preenchidas. Vão solvendo o antes, dissolvendo no agora. O ar escondido nas narinas, a fumaça solta pelos lábios. Fico atassalhando a noite naquela ponta que queima. Com aquela melancolia asilada nos braços, as mãos esculpem uma expectativa em tom pastel: pouco se vê no escuro da noite. O trago ilumina. De repente salta da luz aquela candura afetada, imóvel entre os dedos. A coragem é solitária. </div>
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Olho irremissível para as pernas que se dobram à mesa. Os traços alheios riscando minha vida. Cada gesto me faz querer tocar - algo sem laço. Sem a queixa da saudade. Desforro os cabelos com uma das mãos, espalhando uma saída meio deselegante, meio louca. À quina do cotidiano, a mesa servindo de destino. O cansaço descendo a pele das pálpebras, fazendo moradia no peito, alforriando passagens pela madrugada. E a rua se afortuna, minha vida segreda nas esquinas meus dias sugeridos. Flagro gritos num filete de sangue da minha gengiva, separando os dentes das palavras. A boca cortada. Os lábios de sangue-batom. Os dedos pousados no canto, me borrando. Meu próximo beijo será um furto.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-44937890355420822342013-11-18T14:51:00.001-08:002013-11-18T14:51:31.364-08:00Estudo em furta-cor.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwv-688TgJs8bJsRYqHN4whY_abm0Z-pp3QI0uFBY5XtLnAmkR7XxECuUkN-EUUhvo1mqLzJqrhj0f3D8JLRyYc_7vXAoLyNqjJv1aAkhabqV-IV-vIkoH18XsxNE0WxRaIl6mDSKV0tg/s1600/hopper4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwv-688TgJs8bJsRYqHN4whY_abm0Z-pp3QI0uFBY5XtLnAmkR7XxECuUkN-EUUhvo1mqLzJqrhj0f3D8JLRyYc_7vXAoLyNqjJv1aAkhabqV-IV-vIkoH18XsxNE0WxRaIl6mDSKV0tg/s320/hopper4.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Aqui jazz. A gaita gemendo ao fundo, como no pé do ouvido. Meu barco bêbado: ressaca afetiva antes da etílica. A solidão da garrafa no chão. O coração é meu barzinho. A vontade entre as coxas não amansa. Entre uma e outra dose - pura e direta -, a risada estridente abafando. Aquele cantinho todo vomitado. A cama, meu meio-fio. Minha sarjeta roubada. Talvez tenha confessado tudo antes da hora. Acordei sob o signo errado. Sóbrio sem querer. Cambaleando entre um poste desligado e minha coragem atirada de carregar o mundo com os olhos. Um canalha. A meio passo de uma transa sem ensaios. Lençóis amassados. As horas derramam os ponteiros. Desocupo as roupas, caio em desuso por um final de semana. Um cigarro aceso, tragado sem nunca ter aprendido. As semanas não se oferecem, eu escrevo. Atravesso o porre sem esvaziar o cinzeiro, sem lavar os copos, sem apagar os versos da parede, sem tirar o batom da camisa. A louça cuspida na cozinha. Só o tapete esticado. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-8397311135809818462013-11-04T14:25:00.004-08:002013-12-29T21:03:40.484-08:00Walk on the blues side.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQFnh50KpE246lugSg-iYyAZnlLNVoocP7UBXryoto2WmoYDkceRHR9Dw_DOPe5VMaKQuTHBq3I7M63fj6oq5Gbcg_Nju3INbAtDlVW3gn45hbPMU8NND4B3_PkuMFONYIzkW3v-VwTBc/s1600/tumblr_ms68p6Ovjb1srxknto1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQFnh50KpE246lugSg-iYyAZnlLNVoocP7UBXryoto2WmoYDkceRHR9Dw_DOPe5VMaKQuTHBq3I7M63fj6oq5Gbcg_Nju3INbAtDlVW3gn45hbPMU8NND4B3_PkuMFONYIzkW3v-VwTBc/s320/tumblr_ms68p6Ovjb1srxknto1_500.jpg" width="238" /></a></div>
<br />
Sou eu quem toco<br />
o blues<br />
que ela dança,<br />
se lança,<br />
perfeita,<br />
entre outras pernas,<br />
outras bocas.<br />
<br />
Toco notas cruas,<br />
ela nua<br />
no espaço entre<br />
o solo lento.<br />
Gemido.<br />
Baixinho,<br />
no ouvido.<br />
<br />
Sou blues pensado<br />
no seu seio,<br />
com o bico me olhando<br />
duro, rijo. Ela<br />
me ouve, de graça,<br />
entre um cigarro<br />
e outro. Meu ciúme<br />
consumido.<br />
<br />
Numa nota mais<br />
aguda, a fagulha.<br />
Ela me acerta<br />
na nota mais alta.<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-87380356307936525962013-10-21T16:27:00.001-07:002013-10-21T16:27:28.192-07:00Pequeno dicionário da inexperiência.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOat3yT2md-kKJqgKqly4LkHFv-dnkqWwMC67kjnje7kHXJ3RyOMfRrbM_k48V-aWOzqGHQBZa5yEnT_EIKte-l6aUEEyW3AATRCkq4wOR4QUH2E3VeiZsxXbPYYnWA9WaKE6U05MCCiw/s1600/tumblr_lsb2xnGBlO1qguijbo1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOat3yT2md-kKJqgKqly4LkHFv-dnkqWwMC67kjnje7kHXJ3RyOMfRrbM_k48V-aWOzqGHQBZa5yEnT_EIKte-l6aUEEyW3AATRCkq4wOR4QUH2E3VeiZsxXbPYYnWA9WaKE6U05MCCiw/s320/tumblr_lsb2xnGBlO1qguijbo1_500.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu. Outro. Interior. Exterior. Amor. Ódio. Ciúme. Perdão. Desculpa. Gentileza. Pecado. Milagre. Bem. Mal. Bom. Ruim. Perto. Longe. Distância. Raso. Profundo. Imanência. Transcendência. Ascendência. Dia. Noite. Silêncio. Palavra. Raiva. Solidão. Selvagem. Humano. Número. Símbolo. Parar. Continuar. Contínuo. Descontínuo. Atração. Repulsão. Confusão. Difusão. Associação. Dissociação. Rápido. Devagar. Suavidade. Peso. Harmonia. Caos. Conhecer. Desconhecer. Começo. Meio. Fim. História. Geografia. Acompanhar. Ritmo. Dispensar. Velho. Novo. Esse. Outro. Isso. Dilatar. Conter. Esperar. Contar. Longo. Curto. Perder. Achar. Encontrar. Vazio. Preencher. Encher. Cheio. Escrever. Descrever. Inscrever. Lembrar. Esquecer. Pedir. Drama. Comédia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nada disso existe.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-62087309294753092802013-10-09T16:06:00.000-07:002013-10-09T16:06:11.021-07:00Nepente.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPlaFUPcjJTEO-9rhNlLTLSUbsWFsmJrsWrbxddJPXpyQRrPB4ytKqVTjDVSqmvKIu9rIHnhGV0BQ6uRbD81tUiMb5xPHtMtBK6aoql1dQ6W01Nl4SNsvCyjdi7902FJxMrG808KAZCrQ/s1600/tumblr_mek50vOlld1rtb4i7o1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPlaFUPcjJTEO-9rhNlLTLSUbsWFsmJrsWrbxddJPXpyQRrPB4ytKqVTjDVSqmvKIu9rIHnhGV0BQ6uRbD81tUiMb5xPHtMtBK6aoql1dQ6W01Nl4SNsvCyjdi7902FJxMrG808KAZCrQ/s320/tumblr_mek50vOlld1rtb4i7o1_500.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não sei pedir muito. Aliás, nem sei mesmo como fazer as perguntas certas. Talvez me seja impossível. Pedir foi sempre nervoso. Um sacrifício inevitável. Nunca descansei ao desmaiar lucidamente e proferir aquelas palavras. E o chão nunca acolheu meus irremediáveis, blues e mordidas. Mas nem isso eu peço. Pedir é uma questão de tempo. Um improviso. Aquele olhar incorrigível, egoísta. O surpreender emocionado. Coleciono pequenas lamentações, em goles. Pedir é humilde, bem como depender. Mas não pronuncio. Vivo subitamente, como a água correndo. Tão vermelha e afirmativa. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-48088640940304184282013-10-02T15:54:00.001-07:002013-10-02T15:54:58.531-07:00Mate os teus.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7aF80MmKtWogOjzyG97iYAy2X9xeGoQO-b9NX1DPeze5LX8BvwLKRLNNXDtCfuSznKCh3l5t2zOG8hLBJEMsx6jmxIzw1JVP3klQbIkcSnpqH1s8mz9lE5ormnhai48eLxyX78Aw6XEk/s1600/my-house-providence-rhode-island-1976.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7aF80MmKtWogOjzyG97iYAy2X9xeGoQO-b9NX1DPeze5LX8BvwLKRLNNXDtCfuSznKCh3l5t2zOG8hLBJEMsx6jmxIzw1JVP3klQbIkcSnpqH1s8mz9lE5ormnhai48eLxyX78Aw6XEk/s320/my-house-providence-rhode-island-1976.jpg" width="311" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Um a um. Lentamente. Asfixia, veneno. Em silêncio. Sem explosões. Sem palavras. Comprometido. Até o fim. Ante a mim. Com fervor. Sem amor, só a loucura. Suicídio compulsório. Mais de um. Menos que um livro. Mais que uma música. Uma camisa. Um cabelo. Um cabelo sem voz. Uma barba. Uma boca costurada na língua. Tudo. Enquanto nada. A possibilidade do grito. Sem espírito. A alma no ombro. O céu nos olhos. O inferno, os outros. São. As sobras da sombra. As sobras dão sombra. As sobras, minhas. Eu, também.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-56198682710627691242013-09-24T18:05:00.002-07:002013-09-24T18:05:37.685-07:00Zelo.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKnrC9hSkp_YTj_NYf5gzta9j60GdlZ2shrKVsTp6R2N1DU0mrthDL77UUdZrY-o0N2F1c96lf9EMgcegawIj6NgdXDdwM3OoHaTwE9UESfoefcj0jI7JZVxfTCIM28gVykoXu2wbFEno/s1600/tumblr_lsb2xnGBlO1qguijbo1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKnrC9hSkp_YTj_NYf5gzta9j60GdlZ2shrKVsTp6R2N1DU0mrthDL77UUdZrY-o0N2F1c96lf9EMgcegawIj6NgdXDdwM3OoHaTwE9UESfoefcj0jI7JZVxfTCIM28gVykoXu2wbFEno/s320/tumblr_lsb2xnGBlO1qguijbo1_500.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Arrasto meus desconfortos para o transe do silêncio. Meu mundo flutua no cotidiano. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Resgato as aproximações desistindo de conviver comigo mesmo. Escutem. Escutem meus lábios que se abrem apenas para mordidas. Ouçam minhas lágrimas como ouvem a chuva batendo na janela. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meus murmúrios secos dentro da presença inchada. Porque toda permissão é incomunicável. Quero viver os livros que não escrevi, para toda a poesia que já vivi. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha vida cuidada. Minha vida a cuidar. Saudade é não conseguir mudar nada. Clichês cuspidos na calçada. Uma letra do Robert Smith na voz de Johnny Cash. Roupas dispensáveis ao pé da cama. Os sonhos lúcidos no travesseiro. Os outros ejaculados num poema. O corpo avarandado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cigarro nunca tragado, ridicularizado. O coração unânime. A desimportância desafiando. A bagunça aguentando. A segurança claustrofóbica. O riso em banho-maria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O olhar em vanguarda. Um porre cruel. A permanência da vontade. A insistência da memória. Confissão ignorada. A sinceridade comovida. A surpresa suspensa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A dor suja, incapaz de tirar uma foto.</div>
<div style="text-align: justify;">
O hoje lento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A alegria tentada.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-69331123395680474482013-09-22T16:30:00.003-07:002013-09-22T16:33:49.748-07:00E é sobre o teu poema imoral.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzZFOdDgxqnv_drUWAPjouf0zIDUu2s9H4JDidpdwXJKgLw0fbChshIBpIv1ZxiEwDO4L1yToh5o4oni3peGQhJiaBxEiKaUCrOyxgUyyqoH-cNxiw_zivgNC15ppDO9WTD0biiwuDEZI/s1600/1374165_606863329365109_983030044_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzZFOdDgxqnv_drUWAPjouf0zIDUu2s9H4JDidpdwXJKgLw0fbChshIBpIv1ZxiEwDO4L1yToh5o4oni3peGQhJiaBxEiKaUCrOyxgUyyqoH-cNxiw_zivgNC15ppDO9WTD0biiwuDEZI/s320/1374165_606863329365109_983030044_n.jpg" width="256" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br /><br /><div style="text-align: justify;">
Você arruinou cada camada de linha tênue do meu auto controle e degolou toda a minha imbecilidade sem ter nenhuma esperança de receber algum indício de gratidão da minha parte. E agora o que te dizer além de que conseguiu penetrar na minha corrente sanguínea, fazendo assim, agora, parte de mim? O que você é? Alguma espécie de neurologista filho da puta? Se é que isso faz algum sentido. Mas não importa. Sobre as minhas vísceras, por de traz das minhas córneas e dentro de mim, a textura do teu toque e a pressão do teu beijo se harmonizam com a falta de amor que meu corpo gélido esteva acomodado a receber. E tu chegara assim, com esses pelos indisciplinados no rosto, e o cabelo perfumado embrenhado com o cheiro da tua nuca, disposto a fazer de mim um poema fora do ritmo, com versos depravados, incompreensíveis pela falta de vírgulas e me fizestes ser mais uma vez, feliz, por decidir não colocar um ponto final. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ao avesso, sou de novo teu verso. Uma versão mal acabada daquela música que eu não lembro mais. Fizeste do meu cabelo uma tirolesa pras tuas palavras, que passeiam em mim tão fáceis que me arrepio. Te ventilo com meus sussurros. Tu me amordaças com a boca, eu tão pálida me ruborizo. A harmonia visceral que me toma e te queima – as brasas na língua – é uma peça esquecida e soturna, quem sabe composta pelo Fantasma da ópera. Nossos gritos são ritos, chamados ancestrais do amor que nos condenava canibais desde sempre. Tu te despes, eu desperta me disponho. A tua falta de vírgulas, o meu excessivo incômodo por pontos finais – tudo nos levou à essa informe pontuação, sem sentido, escrita à sangue na talha do corpo. Desatinamos a ser a linguagem bruta das línguas mortas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Se me matas sempre que me faz correr um risco de ter um derrame quando me olhas; se estou perdida nessa multidão, e se vem tu e me enxergas; E eu aceito me despir pra você... Vai ver que o avesso desse poema imoral, é mesmo o nosso lado certo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
(Ellen Gabriele/ Matheus Rocha)</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-51501153072357863882013-09-18T15:48:00.001-07:002013-09-18T15:48:12.142-07:00Passagem concretista.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMmty1zDVLqC92SQzsu4pqZkXyc0yeSmegDMN8T_WDmGB4lzNIVWkI0a5IBMCLE_uZ2fuXOUNf4MYlkGms5ln2g110Teuh1X6HwS65dthD69xL4dNdtepKcHioGSihzP_zi83exBV-cBU/s1600/abstracionismo-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMmty1zDVLqC92SQzsu4pqZkXyc0yeSmegDMN8T_WDmGB4lzNIVWkI0a5IBMCLE_uZ2fuXOUNf4MYlkGms5ln2g110Teuh1X6HwS65dthD69xL4dNdtepKcHioGSihzP_zi83exBV-cBU/s320/abstracionismo-2.jpg" width="290" /></a></div>
<br />
E eu me pergunto<br />
até quando<br />
devoro,<br />
até quando<br />
vomito,<br />
até quando<br />
até quando.<br />
<br />
Até quando<br />
me devoro,<br />
vomito.<br />
<br />
Até quando<br />
me pergunto,<br />
vomito.<br />
<br />
Até quando<br />
vomito,<br />
me devoro.<br />
<br />
Até quando<br />
vomito,<br />
me pergunto.<br />
<br />
Até quando?<br />
E depois<br />
expulso.<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-77871828184998398682013-09-12T14:25:00.003-07:002013-09-12T14:25:50.179-07:00Outros Mofos.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIlegnDmCykoha1Jyg0ApiVi931VFNj9TLwQP3KRHghv0MevlaUNwjUFXDqkBCoIhdUXbMWrJLCTb6ALhpDgjv-5r371WCtF4DmRcWqSblP0c-MmUvPk-uaJDc_kD4QFcH0ncZURrie4Y/s1600/caio-fernando-abreu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIlegnDmCykoha1Jyg0ApiVi931VFNj9TLwQP3KRHghv0MevlaUNwjUFXDqkBCoIhdUXbMWrJLCTb6ALhpDgjv-5r371WCtF4DmRcWqSblP0c-MmUvPk-uaJDc_kD4QFcH0ncZURrie4Y/s1600/caio-fernando-abreu.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Caio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tô te escrevendo na madrugada quente,
num apartamento que não é meu. Não sei como começar, na verdade. Uma citação
tua, ou da Clarice. Ou outra assim. Não sei. Lá se vão – quantos, mesmo? –
dezessete anos desde que tu deixou tuas coisas do mesmo jeito, sem mudar nada
de lugar. Eu era ainda bebê, velho. E senti tua urgência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aqui tá quente. Não me sinto tão
aquecido. Mas tá quente. Tenho essa semana longe de casa, vestindo preto o dia
todo – já me acostumei. Um supermercado aberto o dia in-tei-ro aqui na frente,
imagina? Ah, mas falta dinheiro. No player, a voz do Cícero embalando meu
cansaço. Não tenho dormido bem. E não consigo deixar de te ver. O tempo todo,
profundamente e misticamente no meu dia. Não é que eu queira deixar, ou que
escrevo pra te exorcizar. É força e carinho. Mas é difícil me dar com a
impossibilidade ontológica de não te ter aqui. Assusta, cara. E tu não tem
ideia do quanto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sim, sou um cara que permanece na
hesitação do corpo. É quase imperecível, você sabe. Fico me batendo no
apartamento, a uma e meia da madrugada. Soa inconveniente, mas não. Sabe aquela
desintegração, que atravessa a noite, vara a madrugada, esburaca o dia, enovela
a tarde? A sensação profetizada, sempre: aquele medo de rejeição. O medo amputado
da própria sobrevivência. Então. Fico aqui olhando pra ela, projetando minhas
possibilidades carcomidas desde sempre. Tenho pressa, Caio. Não sou impaciente.
Mas tenho pressa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou tão fresco e neurótico quanto você. Coisa
de escritor, talvez. Eu, pelo menos, me penso escritor. Mas tô muito longe. Vivo
um melodrama cotidiano desfiado nas palavras. Vez-em-quando apelo para a
astrologia – o ‘apelo’ não foi agressivo, por favor -, tentando desenhar no
mapa essas minhas disritmias. Demorei pra entender que eu sou também o que
escrevo, e não só. Me exilei em outra cidade – uma semana só, ainda não sou tão
grave – pra tentar alguma coisa. Não me pergunte o que, eu não sei. Mas me vi
dentro de um segredo nem tão secreto assim. Mas permanecerá silenciado, por
enquanto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Queria morar no Passo de Guanxuma. Não,
não um personagem seu – por mais requintado que possa parecer. Muito perigoso,
talvez. Tenho tanta coisa pra escrever, sofregamente pronto dentro de mim. Um
livro de contos, o primeiro. Sem nome, ainda. É um estado de nuvem. Tudo
nebuloso, lamacento. Queria um cigarro. Queria não: quero. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pausa. A madrugada varada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fico olhando pra minha estante – teus livros
todos emprestados. Não sei se voltarei a vê-los. Sou inábil para dizer não. Mas também não me frustro assim. Nem me amargo
tanto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas olha, hoje é seu aniversário. Não vou
sair escrevendo aquelas baboseiras tradicionais – você deve estar cansado de
ouvir isso. E eu tô cansado de dizer, também. Fico olhando pra minha pedra
esotérica de touro, um quartzo rosa que tenho há uns quatro anos – essas coisas
me lembram de ti. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vim me confessar, também. Eu sei que
você tá longe daqueles monges – um obsceno senhor C, talvez. Acho que tô no
limiar, no limite branco, Caio. Caio. Ali naquele estado de torpor-amor – os olhos
brilhando. Purpurina sólida. Ah, isso: te desejo muito líquido e purpurina,
querido. Sem inventários, mas sempre o irremediável. Ir-remediável – faz uma
tremenda diferença. Desequilibra a calma, sabe? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Acabei de ver a chuva mudar e direção. Um
balé clássico, seduzido pela Ana Botafogo e as notas saídas na voz da Amy
Winehouse. Acho que você gostaria dela – porra louca, uma literal casa de
vinhos mesmo! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Li tuas cartas. Gostaria de receber uma.
Mas te mando essa. Publicada em qualquer canto, pregada na parede feito anúncio
de venda talvez. Leio teus livros – tenho um conto escrito pra você. Ainda quero
aprender a tocar piano. Tocar uma peça do Brahms, medonha e melancólica. Um copo
de vinho – talvez vodca – em cima do piano. Cafona. Fico catando as dores pra
ver se sai algum texto. Na frente do computador, em alguma rede social e quase
sempre ouvindo alguma coisa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Talvez se você estivesse aqui, doesse
menos. Talvez não. Ou talvez nada mudasse. Mas sinto que seríamos irmãos,
primos, cunhados, amantes, pessoas que se traduzem aos amassos quando bebem
demais. Desculpa, sou mesmo assim confuso. E às vezes quero me aproximar de
você da única forma que sei: escrevendo. Sou taurino com ascendente em câncer –
aquela sensibilidade nunca pós e sempre pré tudo. Com marte em leão e plutão em
escorpião. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas também somos muito diferentes. Te escrevo
também por isso: pra cuidar de mim, e de ti. Por esse meu querer violento e
exacerbado. Por essa tua compreensão encantada e desoladora. Por tudo. Por falta.
Por amor. Por você.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um abraço, com carinho e cuidado. Onde quer
que estejas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Com saudade e o amor de sempre – não é?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E um beijo, Caio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Matheus.<o:p></o:p></span></div>
<br /><div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-64244331365022209062013-09-07T18:22:00.001-07:002013-09-07T18:27:42.970-07:00Na espuma.<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibwQiWTtpoY8JBETZaRkZ5dF8MxhYqUnKfVoWSmmUMSCtBvbhFjjeGtxiDLgAR38gE1NTB7qNtgHRXaBOFS9VlOvABPOpVmlNGZRdKtp-o-FQx93C2ZwonUkgerYb1JRKAkVTyiFG6VmI/s1600/alone_in_conversation_by_cweeks1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibwQiWTtpoY8JBETZaRkZ5dF8MxhYqUnKfVoWSmmUMSCtBvbhFjjeGtxiDLgAR38gE1NTB7qNtgHRXaBOFS9VlOvABPOpVmlNGZRdKtp-o-FQx93C2ZwonUkgerYb1JRKAkVTyiFG6VmI/s320/alone_in_conversation_by_cweeks1.jpg" width="223" /></a></div>
<span id="goog_720412726"></span><span id="goog_720412727"></span><br /></div>
<div>
<br /></div>
A cerveja desce<br />
<div>
em goles secos.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Os corações na sargeta,</div>
<div>
pisados, ancorados</div>
<div>
no destino dos passos</div>
<div>
errados, rápidos,</div>
<div>
ríspidos. Amor é uma</div>
<div>
palavra pequena,</div>
<div>
cabe em qualquer boca.</div>
<div>
Cabe no beijo roubado,</div>
<div>
sempre na ponta</div>
<div>
da língua molhada.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Escapulo no arco</div>
<div>
da vida, na flecha</div>
<div>
do dia apontada</div>
<div>
pelo cupido. A velha vida</div>
<div>
adiada fica</div>
<div>
mais próxima, a vida</div>
<div>
antiga</div>
<div>
agita</div>
<div>
e grita</div>
<div>
na mesa.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Eu torno mais um </div>
<div>
copo que</div>
<div>
desce em goles secos.</div>
<div>
Não decido</div>
<div>
à última hora.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-7275045152782454272013-08-30T14:43:00.002-07:002013-08-30T14:43:44.670-07:00Os Dragões conhecem o paraíso.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaEtrJPn2XUFck_8F6rKnLgMuOnQIOsKSKMtr8zjgUeMbYtDgtNFZFvpPs26iWw7F15ZU9ZQrqurnhg8xn5NaJM4y-HPi3ptpaVvSX7pRQuHhtdCfszvL6hKV-ciK-VJd7FtOYxsx6gl8/s1600/1241807_650034661687133_824838658_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaEtrJPn2XUFck_8F6rKnLgMuOnQIOsKSKMtr8zjgUeMbYtDgtNFZFvpPs26iWw7F15ZU9ZQrqurnhg8xn5NaJM4y-HPi3ptpaVvSX7pRQuHhtdCfszvL6hKV-ciK-VJd7FtOYxsx6gl8/s1600/1241807_650034661687133_824838658_n.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
Inaiza.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Acho que você gostava de me ver pintado de palhaço. Meus olhos inchados de lágrimas que você me mandou não soltar. E o sorriso pintado, vermelho sangue. Só daquela vez me vi assim, dentro do meu próprio horror. Chamando atenção pela cor, eu sempre invisível pra mim mesmo. Mas olha, guria, só você. </div>
<div style="text-align: justify;">
Te escrevo por entender. Não que eu me entenda, ou que você me entenda, ou que me faça entender por escrito. Mas por entender, tão somente. E a poesia disfarça comigo. Me vi com o corpo feito garganta, pra ser voz. A pele pedindo libertação de mim, livre da total dependência da confissão em primeira pessoa. No silêncio, sem o suicídio da palavra e na presença de um fôlego manso, vi teus dragões - tão coloridos e teus. Eu, sisudo, ressentido pra sempre por ter nascido - esse era um alvo certo seu, quando brigava comigo -, desaprendi a sorri com os dentes. Sorrio com os lábios, tão somente. Ou com os olhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Te escrevo num instante. Involuntário. Escrevo lembrando dos teus livros de auto-ajuda, tua cara de segunda-feira - é muita ironia se dar bom-dia numa segunda -, das nossas ressacas de café e gargalhadas. Ficava besta te vendo trans-formar essas frases de altar-de-bar em pequenos post-its diários, quase pílulas de sanidade. Me transtornava com teu sentido sagrado introvertido e profundo. Era a partir dele que tu batia de frente com meu saudosismo, meu orgulho - se tu não quebrar essa redoma, menino, eu mesma quebro. Verdade espantada e espantosa: eis que sinto que.<br />
Te escrevo também o que pensei e não escrevi. No escândalo do teu sotaque arrastado, cantando as mais altas dores nas madrugadas. Até os desvios em vão - desvãos. Puro estado clariceano, com flores da Cecília que tu me deste - teu último presente, todo grafado. Ganhaste meu presente no meu aniversário. E sabe: não tenho conseguido viver um dia por vez, nem mesmo um por semana. Permaneço naquela fatalidade inócua que me conheceu. Quero dizer: sem descrever espelhos.<br />
Te escrevo insistente. A lua cheia é uma insônia. Entorpece como amor. Respiro ofegante, atropelando o vento. Cortando suspiros no meio, pra não escapar saudade. Autossuficiência sempre foi um nervo desligado de mim. À flor da pele, mesmo, só aquela pressa solta de ter-ser tudo ao mesmo tempo. Descobri, olha só, que nasci no século certo, no tempo certo - no tempo da preguiça. Exposto às intempéries e tudo o mais, me debato intolerável no claustro que só tu, por mais ferida que estavas - e olha que advinhávamos um ao outro e outro ao um em pouco menos de alguns minutos -, desafiava e entrava sem perguntar, jogando o casaco na sala e dando abraços com os dentes rangendo.<br />
Te escrevo existindo. Você me disse que, um dia, me daria a mão e me levaria para fora disso que eu construí. Você me fez belo, me fez maldito, me cantou, me encantou. Sempre pensei que você nunca teria como cumprir tudo o que você me disse. Impossível.<br />
<br />
E veja só - eu estou errado. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-3378639607497383712013-08-11T11:59:00.001-07:002013-08-11T11:59:49.667-07:00Abstinência.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj07aCy2URYCedIWIy1ZZHBu6oCPph6hcIFKM5MblsA1qpRszn5o9FojSIQKz5gu5R35dorTH5hlLPqOfMHakYgJDNd2fmkI1QfgAZ87B8J-KW4hpD_Z8zXQHYxWF3fg2n7cEqYK9jeg_E/s1600/goth_card_heart.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj07aCy2URYCedIWIy1ZZHBu6oCPph6hcIFKM5MblsA1qpRszn5o9FojSIQKz5gu5R35dorTH5hlLPqOfMHakYgJDNd2fmkI1QfgAZ87B8J-KW4hpD_Z8zXQHYxWF3fg2n7cEqYK9jeg_E/s320/goth_card_heart.gif" width="247" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
felicidade é uma cartada. A final, talvez. Talvez seja uma carta na manga, uma
hora qualquer. Num golpe de vista, toda a procura se esvazia. Fica só o
caminhar esvaído. A centelha cintila, mas fagulha. Na solidão de palidez
monástica, um fôlego ignorante insiste. Insiste em mim. Insiste no sorriso
forçado, na conversa involuntária e póstuma aos goles de café. Insiste na minha
peregrinação urbana constante, nas andanças que cansam o corpo e consomem a
alma. Chega a ser obsceno como se insiste na insuspeita. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Incendiadas,
todas as possibilidades pululam. O inventário: lembranças dilaceradamente
vivas, nem tão longínquas; a vida flui rápida demais. Clandestina é a felicidade,
secreta talvez. Tardia. Tão completamente embriagante que turva a visão.
Destilada, duplo malte. O calendário se faz relógio: os dias ampulhetam. Sem
temperanças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não
se abstém. A sensibilidade não é termômetro. Às cegas, todas as juras enfeitam
as palavras. Rasga-se a tranqüilidade, um diário envelhecido. Sujam-se as
cobranças como o falso mel da candura. Descaminha-se, se desconversa. A
insistência é quase um auto-exorcismo da honestidade. Se entorpecer de calma é
privar-se da paixão. Aniquilar a entrega freia os instintos. A solidão da
felicidade é incompreensível. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Inventando
para si toda a sorte de acontecimentos e privilégios, mexe-se na infância, no
olhar, no sexo, nas mágoas, nos desesperos, nos tormentos. A epígrafe da
felicidade é escrita no sorriso. A vontade descabida aborta as lágrimas. O
lirismo embasbacado, a completude bêbada – oscilam as obsessões. Descansam na
prateleira do silêncio os verbos mais intransitivos, mais intransitáveis. Não
existe amor na felicidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Engasgada
pela náusea do tempo, a memória não reabilita os afetos. A felicidade
impossibilita que se tateie outro corpo. Cruel, se satura permanentemente. Seu
pulmão é o egoísmo. O equilíbrio delicado dá lugar a uma áspera sonolência – o coração
volta a ser um órgão. Apenas sabe-se que bate. Mal se advinha a face feliz. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu
coração faminto apenas rebate. Meus sorrisos amassados. Uma tatuagem em
nanquim. Minha felicidade não alivia. Minha felicidade é um cupido gótico, de
asas angelicais, espartilho e sorriso sussurrado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-38133318384988857232013-08-04T11:23:00.001-07:002013-08-04T11:23:54.134-07:00Ode ao café.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpHyorco4KUA-0qWDldgwXV_M20HBAW5figoqc_bO8VSF358eGxGCN51f3xajn2JDeMMabUEtBMZxk1GI3jeyCpo6xYJki1vRCnXQvypYO0WOqxeYYVaHawipyOWizDn1LUcZJ5RY1tXU/s1600/bloodcoffee.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpHyorco4KUA-0qWDldgwXV_M20HBAW5figoqc_bO8VSF358eGxGCN51f3xajn2JDeMMabUEtBMZxk1GI3jeyCpo6xYJki1vRCnXQvypYO0WOqxeYYVaHawipyOWizDn1LUcZJ5RY1tXU/s320/bloodcoffee.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
café é inevitável. Ele é a verdadeira crônica. Crônico. Uma verdadeira
literatura em pó. Durante as xícaras, somos hipocritamente imortais. Um e outro
gole amargo para desfazer o agridoce do bom dia. Um vício sinuoso. Ainda
acumulado de sono, deslizo me oferecendo ávido para aquele pó preto. Duas
colheres cheias, e uma de açúcar. No último gole, o que fica atravessado na
garganta é o cotidiano. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É
um ritual. Com o perdão da pieguice subjetiva, errá-lo traz uma carência sem
precedentes para a história do dia. O gosto do café no beijo de despedida é
quase uma obscenidade: a língua escorrega com lascívia em direção à outra. Fica
a sensação de beijo tardio, que deveria ter sido dado há minutos atrás. As
mãos, ressecadas de carinhos antigos, seguram a xícara com a firmeza de quem afaga
os cabelos. Os olhos sibilam desnecessários, vagando entre as bandagens pós-modernas
e sendo cúmplice de certa invisibilidade matinal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No
meio da manhã, da tarde, da noite, da guerra, da madrugada, da sala, do quarto,
da fome, o inelutável. A sede de café rasga, queima. Não se adivinha o café.
Sem escapismo nem medo, a longa e áspera solidão do cafezinho destrona a
solubilidade das próprias esperanças. Austera e cruel, a boca que se enche nos
goles procura uma outra boca funda e úmida, também desenganada pela hipocrisia
imortal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim
como o cigarro, e ainda mais do que ele, o café é um instrumento do silêncio. O
líquido manipula os lábios, a língua, os dentes, o hálito. Tudo o que sobra – e
quanta responsabilidade nisso – são os beijos. Tão intensos, quase tão místicos
quanto a sensação de areia seca antes deles. É sim intuição. É todo esse
alvoroço químico-místico que vira furacão numa fração de segundos. Segundos
contados a goles. E o tempo crispado nas mãos, dissolvido junto na xícara. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na
impiedade dos jornais atirados nas calçadas, das ressacas etílicas e
emocionais, na relutância das roupas penduradas nos armários, no embuste dos
compromissos adiáveis e odiáveis, no inconsolável momento de deflagração apaixonada
do olhar de quem ama – o café é o afeto mais forte do dia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-79125188014234919782013-08-01T11:55:00.000-07:002013-08-01T11:55:51.361-07:00A Divina Comédia.<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwlHTGkNJMeqWHZ5G9PCE3GVGuphXRfcNuc6HGqPC2Hbl8rXb8dJ_sXg2WxgZKAAYQiLr1Xb9uhvso11KEW20mVVL2zIV1M6LGEfjmtJAkV_sA79VIPFxWWmcLbAOPAqvAiMw-EUElq6U/s1600/gustave_dore_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwlHTGkNJMeqWHZ5G9PCE3GVGuphXRfcNuc6HGqPC2Hbl8rXb8dJ_sXg2WxgZKAAYQiLr1Xb9uhvso11KEW20mVVL2zIV1M6LGEfjmtJAkV_sA79VIPFxWWmcLbAOPAqvAiMw-EUElq6U/s1600/gustave_dore_2.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Se o inferno são os outros, é inaceitável que eu mesmo seja um paraíso qualquer. Errante, passo uma temporada no inferno não como retardatário, mas como habitante. Aqui, é como se tudo se suspendesse, e algo latejasse incessantemente - a carne revirada, crepitada pelo desejo. Todos os vinhos correm pelo sangue, toda a vida aberta ao derramamento do sangue bombeado pelos olhos. Observo os bêbados: abençoados sejam por permitirem a fluidez. </div>
<div style="text-align: justify;">
A amargura da beleza se põe como o sol - o poente de uma veia esticada pela morte. Ridicularizado, o riso febril da passagem abre o festim do desespero contemplado - embriaga. A origem gótica do sofrimento. A ancestralidade da solidão compactada num corpo desprovido de profundeza. Perdido no plano da pele, vagava senil a poética crueldade, tão crua e áspera que era o abjeto de deus. A perdição crua era sublime: a revolta violenta do corpo contra o espírito intempestivo. Ímpeto e fúria, romantismo exacerbado, a fundação da nova sensibilidade como envenenamento dos sentidos. </div>
<div style="text-align: justify;">
O inferno pelo orgulho, o inferno pelo amor, o inferno pelo ódio, o inferno pela doçura, o inferno pelo silêncio, o inferno pela fatalidade. A sinfonia da marcha fúnebre numa ópera transformada em batimentos cardíacos. O pântano libidinoso da carne humana lacerada pelas mais variadas e desvairadas bocas, a confissão delirante dos afetos tatuados e envolvidos em si mesmos, a delicadeza da mentira roubada dos céus, feito asa para voar sobre a moralidade. Num sussurro mortal, todas as outras vidas estão condenadas, nenhuma outra é possível. A tristeza desconhecida é o punhal da mão esquerda que mata a alegria herege. </div>
<div style="text-align: justify;">
A figura humana desprovida de segredos, tão imponente e vagabunda que a liberdade se fez província. Assustadora e visceral, provoca o assassínio das imagens. Cada vez mais distantes, sem glórias vãs nem patéticas saudades amistosas. A poesia é uma maldição concreta. O silêncio escrito, a geometria da vertigem desenraizada. As lágrimas são sêmen, todos choram o gozo. O sexo é o mais alto posto. O horror do divino, a invenção dos instintos, a profanação dos mistérios. Minha solidão matou a morte. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-49927611573988628052013-07-24T18:59:00.001-07:002013-07-24T18:59:53.684-07:00Carmen Maura e Marisa Paredes perderiam pra mim.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6speWl5WS4-Iz3EpWysAO4n3jF8O-kde-1WDvs8BaCUsRWLxpfNTJ7pQlQEQVcA416oUb9CVCacoxz9XB7kaV0dflqmCZum6kqfTdzNGA1XmdWbfoB83H7GDrRVihJnHMum-D3K7iDlk/s1600/936full-pedro-almodovar2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6speWl5WS4-Iz3EpWysAO4n3jF8O-kde-1WDvs8BaCUsRWLxpfNTJ7pQlQEQVcA416oUb9CVCacoxz9XB7kaV0dflqmCZum6kqfTdzNGA1XmdWbfoB83H7GDrRVihJnHMum-D3K7iDlk/s320/936full-pedro-almodovar2.jpg" width="320" /></a></div>
<span id="goog_1146917699"></span><span id="goog_1146917700"></span><br />
Sim, sou uma das mulheres do Almodóvar. Mas as ultrapasso em dramas e crônicas. Quente, forte, à beira de um ataque de nervos, histérico que sofre de arte crônica - um mau hábito, talvez. Meus segredos floreados, flores de túmulo, flores do meu corpo. Em pele e em pelo, arrepiado. Daqueles que não disfarçam o incômodo sem transformar-se numa estátua de sal. Uso o salto alto das palavras, de onde componho meus melodramas - seja esburacando minhas entranhas e atirando-as, seja implodindo os ossos do ofício a cada vez que me dedico. Flerto com a loucura sustentando a violência dessa paixão descarnada, expulso os amores para a pele - eles me sufocariam se permanecessem incólumes. </div>
<div style="text-align: justify;">
Carrego a alma assim. Sem maquiagens exóticas - no choro, o que borra é o rímel do tempo - nem pesadas, não sei esconder minhas fatalidades. Meus afetos prismados, assim, incontroláveis e espalhafatosos são arrogantes de tão brutais. As cores berrantes se encontram diluídas no meu sangue, nota-se pela palidez vanguardista da minha cor. Não choro pelas partidas, mas desespero pelas ausências. De constância, só esse enredo almodovárico. Não, não sou estável. Nem um pouco. Sou um perpétuo indolente, que oblitera a vida para sangrar à arte. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-74758483763640289812013-07-18T09:23:00.000-07:002013-07-18T09:23:17.826-07:00Inferno Outro.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBRIOgJIqlbTZ0q6bi7uWL0MVlyiY7b2YkxUU6gqRx5-6fqanQhXV-ikyLUtxNtbCKxmcxTDEL2g-2SZtPt_bJl1LauRxhbR6_OTRzRpkUGUmp_2u7-cPmFOTdU-Bc9YPupMQBhey6w7Y/s1600/hell.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBRIOgJIqlbTZ0q6bi7uWL0MVlyiY7b2YkxUU6gqRx5-6fqanQhXV-ikyLUtxNtbCKxmcxTDEL2g-2SZtPt_bJl1LauRxhbR6_OTRzRpkUGUmp_2u7-cPmFOTdU-Bc9YPupMQBhey6w7Y/s320/hell.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Você não precisa de mim. Tenho aceitado à cada
pôr do sol. E a cada nascer do sol, a iluminação da minha impossibilidade. Não
sei dos teus passos, dos teus olhares, dos teus prazeres, das tuas vontades,
dos teus anseios, dos teus orgasmos, dos teus ódios, das tuas distâncias, das
tuas vaidades, dos teus medos, da tua felicidade. E por mais que me faça teu,
nunca serei teu vício. Para mim, egoísta, te basta me ter – te satisfaço ao me
oferecer. Alimento-me da tua voz, dos teus abraços, dos teus olhares para mim,
das tuas mordidas e tapas que me selam dentro de mim, cada vez mais teu. E o
medo sobrevém com a certeza de que bebes em outras fontes, tua vida tua
encontra outros corpos que te oferecem prazeres altos, gritos formatados pelo
teu desejo. E me contorço, ardo em desespero – não te devotas a mim. Tuas
ironias com outros, tuas fantasias delirantes onde nem minha sombra se inclina,
as brincadeiras escorregadias que te deslizam: não impeço, nem à revelia do meu
próprio despudor. Meu amor não te consome. Mas posso te matar. Sufocada com
meus excessos, inclusive esse. Por mais que aceite o fardo da distância, me
será inaceitável conduzir meus dias sem as tuas aproximações e confidências.
Mas há outros olhos, outros ouvidos, outras bocas, outros braços. E não impeço.
Não tenho desculpas, apesar das vontades. Nem posso buscar. Não impor minha
procura, minha desesperança cardíaca a bater caoticamente atrás de ti. Minha
solidão se disfarça nas horas nuas. Enlaço tuas pisadas, tuas risadas (mesmo as
provocadas por alguém) nos meus carinhos invisíveis, desenhados na fumaça do
teu cigarro. Meu coração selvagem e hostil, intumescido por tua saliva, na
latência muda que desobedece. Minha sagrada incompletude, oblíqua por reclamar
espaço e toque, a falta tátil ontológica que me absorve. Ando como exilado do
meu próprio corpo, expulso pelo silêncio que oscila entre as chamas da minha
própria ilusão. Sou teu inferno. Teu demônio que assombra na própria sombra. O
grito que silencia a dor, e faz ouvir a insurreição do tempo que corrói por
dentro da carne. O anjo caído que desfalece os desejos e inebria o peito. </span></div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-24777170324424845052013-07-11T16:17:00.000-07:002013-07-11T16:17:40.443-07:00Ela se vestirá para mim neste festival.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNlz-nTdw-8l8I-CAvnyKAUhxpzinkNJMPcmyrTZNRb2uqOGK3YbOQQugnRFEk78kVrPy-tn95OA34DtARul15g4SzPeS9Oc3RW3vPvp7K6_cNy5gtFVelWV_NlumY1PDjSkqJSlKUykQ/s1600/dress2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNlz-nTdw-8l8I-CAvnyKAUhxpzinkNJMPcmyrTZNRb2uqOGK3YbOQQugnRFEk78kVrPy-tn95OA34DtARul15g4SzPeS9Oc3RW3vPvp7K6_cNy5gtFVelWV_NlumY1PDjSkqJSlKUykQ/s320/dress2.jpg" width="239" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em silêncio, a voz embargada. Algo tão nosso que nem precisa invadir o mundo alheio para ser ouvido, ou sentido. No deslize dos sustos maquiados, a fumaça dos cafés quentes dispersando o tanto de frio. Os lábios finos contornando o cigarro, desenhando um batom inexistente que eu teimo em contornar. Fumo e aroma sustentando nossa névoa. Cenas diárias cortadas como um frame de um filme que vive em cartaz na antessala do amor. O vestido de rendas dá vazão à desejos: vazam meus olhos passeando desenfreadamente pelos traços do seu corpo vestido. Adentro seus poros, e me dispo - das roupas e das distâncias. Imerso já na saudade dos próximos instantes - não por antecipação, mas por nudez que desespera a própria solidão -, trocamos as bocas, sem mentiras. As línguas não professam, não falam: estão muito ocupadas no seio de suas próprias sedes. Os olhares se solubilizam, abandonados na liberdade sem fim dos solos de blues. Esculpindo a luz, porque até a sombra precisa dela para ser viva, com a fraqueza da certeza e a franqueza das mordidas, ela se troca. Se troca, se despe, se veste, se gargalha, se soluça, se versifica, se poetiza, se ama e me ama. Tanto. Nossa sinfonia de amor e pranto, nossas fotografias em branco espanto, nossas delicadezas atrevidas: tudo desabafado no decote dela e nos botões da minha camisa.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-17721079885712056662013-06-03T19:53:00.002-07:002013-06-03T19:53:33.229-07:00All lips go blue.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFyel0cRZk78usfE-FVvTNV1tvFXMUYTEfIVxdCSRHGYs1Eu338pqYtT2JuQoRqUwuzKNV8q7KAvhnCJeXJ-AaT8I5nG9ZRHu7ekUsXS6cpxwVu44NyXXtXw7MbMRwczMsFUTUrMXVSpU/s1600/lips.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFyel0cRZk78usfE-FVvTNV1tvFXMUYTEfIVxdCSRHGYs1Eu338pqYtT2JuQoRqUwuzKNV8q7KAvhnCJeXJ-AaT8I5nG9ZRHu7ekUsXS6cpxwVu44NyXXtXw7MbMRwczMsFUTUrMXVSpU/s320/lips.jpg" width="239" /></a></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos os sorrisos fadados a serem dados ao espelho. Todas as imagens escorridas pelos poros. Todos os abraços vomitados à sede de si mesmo. Todos os beijos sofregamente bebidos - a saliva do outro a saciar a sede. Todos os olhares engolidos. Todas as palavras autistas. Todos os toques libertos. Todas as vozes jogadas. Todas as dores aproximadas. Todas as feridas canibalizadas. Todos os fantasmas amanhecidos. Todos os arrepios fornecidos. Toda a surpresa martirizada. Todo ódio crucificado por excelência. Todo costume sabotado. Toda serenidade plantada. Todos os carinhos habitados. Toda a distância feita sobriedade. Todas as perdições feitas vontade. Todas as fugas tragadas. Todos os sonhos dopados. Todos os silêncios embriagados - passos bêbados. Todos os reflexos nauseados. Todos os sonos cansados. Todos os mundos por desistência. Todas as texturas atiradas. Todos os desejos clandestinizados. Toda a fome feita corpo. Todo o corpo feito fome. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todo excesso por sobrevivência. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-24897448884600331292013-06-01T18:50:00.000-07:002013-06-01T18:50:01.728-07:00Afecção.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_quGi_61Zd4YqRozL2KXrj3MGMrqQbHrTZ2msfFDqhz1j1PjvALh73Ld71tFXslvJWtOwhf4ALfZ3EFgS3GhJB4MuJJctDT2A_VENZ7q5NJVE0hyphenhyphenBSy64-HH56UejZ96e91OEgNuh9Q/s1600/johnny-cash-hurt-piano.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="190" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_quGi_61Zd4YqRozL2KXrj3MGMrqQbHrTZ2msfFDqhz1j1PjvALh73Ld71tFXslvJWtOwhf4ALfZ3EFgS3GhJB4MuJJctDT2A_VENZ7q5NJVE0hyphenhyphenBSy64-HH56UejZ96e91OEgNuh9Q/s320/johnny-cash-hurt-piano.jpg" width="320" /></a></div>
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<br /></div>
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Agora. Nem a marca de batom na xícara. Nem o copo meio álcool, meio água, meio gelo que já derreteu. Surpreende-me a caleidoscópica ironia nos entrelaçamentos da vida. Vultos e voltas, carinhos crucificados - a coroa de espinhos no pé. Ando tonto. Equilibro nem minhas vontades. Distorcidas, extremas, entranhadas. Meu corpo é vontade. Meus prazeres não são sentidos por mim. Desejo único de ser vontade de outro, desapegar da minha pele para vestir tristonhamente os afagos e carícias eminentes. Deitado no seio, meu leito, ufanar o peito na entrega viril de mim mesmo. Meus nascimentos vomitados, entre a saliva levada de uma língua à outra. Ao avesso, sou o verso desfeito de verdade. Porque a verdade sou eu, o egoísmo que encontra seu batismo na consumação, nas mordidas. Persigo o mesmo poema, sem viver a mesma prosa - meu prosaísmo rompido. Acuso-me dos crimes passionais: dos ódios originários às refinações dos orgasmos. Volume reinventado para ser explodido em olhares, medo refeito para ser enfrentado pelos dicionários. Sou solitariamente equivocado por não dever nada a ninguém. Nem a mim mesmo, que não existo. Nas linhas matizadas, ando na corda bamba do hábito. Nas músicas, sou a guitarra que solta um solo longo, dolorido e o grito que arrepia - a voz em brasa. Inflamo, inflamo ao ressoar funebremente as últimas notas do solo. Ali, naquela agulha rompendo a pele, naquela tragada, na fumaça, no cinzeiro: sou a infusão daquilo que não dorme. O estupor da pronúncia, o desespero de ser minha própria sílaba. </div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-73077287887548853402013-05-14T12:57:00.002-07:002013-09-07T18:32:53.136-07:00Vício.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvp10__vJn-_NQhf6pcFFzcO6UBKCEI6DyjaO7Xd1OoAox1zHr8RWErK21MpHHG26e3Xj523GtxN28nAuZinSpkvNJWUWBZB7qUo_mcdFu_bdDbGq2vn5JtMPZc4iCjWGzaevyICyF71g/s1600/5645393-md.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvp10__vJn-_NQhf6pcFFzcO6UBKCEI6DyjaO7Xd1OoAox1zHr8RWErK21MpHHG26e3Xj523GtxN28nAuZinSpkvNJWUWBZB7qUo_mcdFu_bdDbGq2vn5JtMPZc4iCjWGzaevyICyF71g/s320/5645393-md.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Minha dificuldade<br />
não é não morrer,<br />
é inventar<br />
sentido<br />
pra continuar<br />
vivo.<br />
<br /><div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-40229407970362542442013-04-21T13:37:00.003-07:002013-04-21T14:17:03.718-07:00Um corpo tão pequeno, para tantos epitáfios.<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUw9CJtBqQuxWC2sJOOrJFpKfwcUKSn2G3b24pRIVs0o9cbOpOyaIw4tspxiQiK8FTtCR7771LEyxaRwkBBSwbMTILgUE9rdD30JdSPu6i__ycLNyZoQnM4QEtWCBhMdMZlVwJJS3DwUc/s1600/224455_159674694106890_808705_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUw9CJtBqQuxWC2sJOOrJFpKfwcUKSn2G3b24pRIVs0o9cbOpOyaIw4tspxiQiK8FTtCR7771LEyxaRwkBBSwbMTILgUE9rdD30JdSPu6i__ycLNyZoQnM4QEtWCBhMdMZlVwJJS3DwUc/s320/224455_159674694106890_808705_n.jpg" width="320" /></a></div>
Até pouco tempo atrás, segurar a cabeça era um gesto de descanso. Hoje, o peso das lágrimas não soltas liquefaz até mesmo os sorrisos. Entre um gemido e uma gaita, um ou outro solo que desorganiza. O choro é infrutífero. Por não bater no concreto, tomei a liberdade de me refugiar na ousadia, arbitrando a afetividade. A erosão - apenas consigo chegar ao concreto depois de destruí-lo - (me) corrói. As palavras foram confundidas com meu próprio rosto. Talhei, esculpi.</div>
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Nos confins dos dias, os cabelos derramados sobre o chão contornam os pés descalços. Um trago de cigarro, um pigarro envelhecido - escrever a cinza deitada no cinzeiro. As ausências instantâneas do presente - a nostalgia do próximo instante. Todo cotidiano é tardio - um epitáfio suspirado. O tempo inopinado obriga, transforma os pesadelos em tela, persiste em consagrar-se como fôlego da vida. Nos infernos do amor, atirei minha coragem num instante de isenção, quase impunidade - os domingos inconsequentes e confortáveis.</div>
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Como inconfidente da liberdade, lancei meus próprios desejos num túmulo que seria meu - como desertor do concreto, desejar seria aceitar a sombra vagueante que escapou deste túmulo. Apodrecidos, putrefatos, são consumidos pelos vermes. Ao primeiro deles que me tocou, sou indecididamente grato: é o único que devorou este corpo de tantos epitáfios e se embriagou das lágrimas ausenciadas. Agora, sou este verme, sou quem me come, me devora. Com toda a liberdade devorada e letal. Voltei à virgindade do grito.</div>
<div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4123379737725156178.post-11645042682761815172013-04-20T16:24:00.002-07:002013-04-20T16:26:17.959-07:00Emotion sickness.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5U7Q6wBOvNniIY3ywJ5E51i3OIECKNEePjc1U1feOTYy2JW-T7geS3Z7XVLh_68g5MJR9wJhcafT9r8Z2ytC2rtykmw_-aByrAtBL69TF18LxQXTuGg8Z_m-v-m-gXJaSZdtNntDe2LA/s1600/Emotion_sickness_by_SandyClaws91.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5U7Q6wBOvNniIY3ywJ5E51i3OIECKNEePjc1U1feOTYy2JW-T7geS3Z7XVLh_68g5MJR9wJhcafT9r8Z2ytC2rtykmw_-aByrAtBL69TF18LxQXTuGg8Z_m-v-m-gXJaSZdtNntDe2LA/s320/Emotion_sickness_by_SandyClaws91.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
Rasgo minhas cartas<br />
e decepções<br />
sem rancor<br />
nem amor.<br />
Rasgo apenas para<br />
não acumular papel<br />
na estante onde<br />
guardei todas as cicatrizes.<br />
<br />
<br /><div class="blogger-post-footer">Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa tenho me divertido muito.</div>Matheus Rochahttp://www.blogger.com/profile/15152636863345516429noreply@blogger.com1