segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Adágio minguante.


Sempre fico com o cheiro do cigarro nas mãos. Ela quem fuma. Nas despedidas, as mãos se procuram e o seu perfume, acendido com o cigarro, me aparece. Minhas mãos indigentes. As digitais todas preenchidas. Vão solvendo o antes, dissolvendo no agora. O ar escondido nas narinas, a fumaça solta pelos lábios. Fico atassalhando a noite naquela ponta que queima. Com aquela melancolia asilada nos braços, as mãos esculpem uma expectativa em tom pastel: pouco se vê no escuro da noite. O trago ilumina. De repente salta da luz aquela candura afetada, imóvel entre os dedos. A coragem é solitária. 
Olho irremissível para as pernas que se dobram à mesa. Os traços alheios riscando minha vida. Cada gesto me faz querer tocar - algo sem laço. Sem a queixa da saudade. Desforro os cabelos com uma das mãos, espalhando uma saída meio deselegante, meio louca. À quina do cotidiano, a mesa servindo de destino. O cansaço descendo a pele das pálpebras, fazendo moradia no peito, alforriando passagens pela madrugada. E a rua se afortuna, minha vida segreda nas esquinas meus dias sugeridos. Flagro gritos num filete de sangue da minha gengiva, separando os dentes das palavras. A boca cortada. Os lábios de sangue-batom. Os dedos pousados no canto, me borrando. Meu próximo beijo será um furto.

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