segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Estudo em furta-cor.


Aqui jazz. A gaita gemendo ao fundo, como no pé do ouvido. Meu barco bêbado: ressaca afetiva antes da etílica. A solidão da garrafa no chão. O coração é meu barzinho. A vontade entre as coxas não amansa. Entre uma e outra dose - pura e direta -, a risada estridente abafando. Aquele cantinho todo vomitado. A cama, meu meio-fio. Minha sarjeta roubada. Talvez tenha confessado tudo antes da hora. Acordei sob o signo errado. Sóbrio sem querer. Cambaleando entre um poste desligado e minha coragem atirada de carregar o mundo com os olhos. Um canalha. A meio passo de uma transa sem ensaios. Lençóis amassados. As horas derramam os ponteiros. Desocupo as roupas, caio em desuso por um final de semana. Um cigarro aceso, tragado sem nunca ter aprendido. As semanas não se oferecem, eu escrevo. Atravesso o porre sem esvaziar o cinzeiro, sem lavar os copos, sem apagar os versos da parede, sem tirar o batom da camisa. A louça cuspida na cozinha. Só o tapete esticado.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Licença Creative Commons
Este obra foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.