domingo, 22 de setembro de 2013

E é sobre o teu poema imoral.




    Você arruinou cada camada de linha tênue do meu auto controle e degolou toda a minha imbecilidade sem ter nenhuma esperança de receber algum indício de gratidão da minha parte. E agora o que te dizer além de que conseguiu penetrar na minha corrente sanguínea, fazendo assim, agora, parte de mim? O que você é? Alguma espécie de neurologista filho da puta? Se é que isso faz algum sentido. Mas não importa. Sobre as minhas vísceras, por de traz das minhas córneas e dentro de mim, a textura do teu toque e a pressão do teu beijo se harmonizam com a falta de amor que meu corpo gélido esteva acomodado a receber. E tu chegara assim, com esses pelos indisciplinados no rosto, e o cabelo perfumado embrenhado com o cheiro da tua nuca, disposto a fazer de mim um poema fora do ritmo, com versos depravados, incompreensíveis pela falta de vírgulas e me fizestes ser mais uma vez, feliz, por decidir não colocar um ponto final. 
    Ao avesso, sou de novo teu verso. Uma versão mal acabada daquela música que eu não lembro mais. Fizeste do meu cabelo uma tirolesa pras tuas palavras, que passeiam em mim tão fáceis que me arrepio. Te ventilo com meus sussurros. Tu me amordaças com a boca, eu tão pálida me ruborizo. A harmonia visceral que me toma e te queima – as brasas na língua – é uma peça esquecida e soturna, quem sabe composta pelo Fantasma da ópera. Nossos gritos são ritos, chamados ancestrais do amor que nos condenava canibais desde sempre. Tu te despes, eu desperta me disponho. A tua falta de vírgulas, o meu excessivo incômodo por pontos finais – tudo nos levou à essa informe pontuação, sem sentido, escrita à sangue na talha do corpo. Desatinamos a ser a linguagem bruta das línguas mortas.
    Se me matas sempre que me faz correr um risco de ter um derrame quando me olhas; se estou perdida nessa multidão, e se vem tu e me enxergas; E eu aceito me despir pra você... Vai ver que o avesso desse poema imoral, é mesmo o nosso lado certo.

(Ellen Gabriele/ Matheus Rocha)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Licença Creative Commons
Este obra foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.