sábado, 23 de julho de 2011

Sobre o estranho-inevitável.

As tragédias acontecem e ninguém se dá conta. Verdadeiras catástrofes permeiam qualquer dia dito comum. Tudo não vemos, tudo sempre alheio à própria condição. Estamos longe o bastante pra dividir a dor. A antropofagia parece ser simplesmente ideológica, algo no plano das ideias, quase uma entidade platônica! As lágrimas embotadas parecem disfarçar qualquer eco da verdadeira dor: jogá-las pra fora parece confirmar esse sentimento 'incômodo', é o cartão-postal da tristeza de um ser. O luto, simbolizado em cores frias, incomoda. O luto traz pra si o simbolismo daquilo que não sabemos conviver. As contradições, as lutas, o devir, a passagem de um estado a outro é tratado com sarcasmo e um mínimo de excentricidade. Na minha agressividade enérgica, questiono junto à Beth da Matta: será justo dividir a dor? Não, justo não é. Nem precisa ser: é humano dividir a dor. Porque não possuir, e encontrar-se com outro, e carregar consigo as angústias do próximo? Transparece sua amargura todo o tempo, seu ar sepulcral e pálido que carrega a evanescência do seu sentir. Estende as mãos, esperando que alguém mergulhe em seus braços e ao menos lhe dê atenção. Ao menos! Talvez tudo isso seja pedir muito.

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