sábado, 27 de agosto de 2011

Doce Sal.



Escrevo esta crônica com um sabor amargo na boca, quase insalubre. Podendo cuspir, ou até mesmo engolir a seco este momento, como tantos outros que passaram. Os dentes e a língua travam, e as mãos tremem com as iniquidades que se apresentam a cada passo dado. Fui sendo tragado por uma semana de obstáculos. O cansaço corporal, denunciado em meu rosto, parecia que torcia pra que houvessem mais degraus, mais chão talvez. Eu só me encontrava à noite, sentado na cama com um incenso do lado.
A torneira pingava na mesma velocidade do ponteiro. Parecia querer acompanhar as horas, os passos, o tempo, a mim. Coração bate criminosamente. E num jogo de cinismo, finjo não percebê-lo. Talvez mais por inércia e menos por querer, mesmo. Insiste em pulsar, firme e forte e bombeando e indo comigo e rindo de mim. Menos por história e mais por momento. Dessas horas que fica inscrito na alma que algo morreu, algo não existe mais. No fim das contas, amor-próprio não existe. Amor sempre transcende os limites do si-mesmo. Amor é sempre para-outros. Arranhava meio desibinido, andava em meio à pedras pontudas... Pode ser até o tempo, mas nenhuma base segura se arranha em meio a passos bem dados. Aquelas hesitações permanentes de quem já se cortou muito e agora não pode gritar. Definitivamente? Quero um banho de chuva. Quero tomar, beber todas as minhas lágrimas. 

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