quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ensaio sobre um Exílio.


Nas mãos fechadas, dois adjetivos envelhecidos. Entumecidos com o tempo inesgotável que entrava como areia nos olhos. Sangrava um amor líquido, escorria. Um derramar constante sobre a pele, simétrica de linhas que compunham um desejo enegrecido no ventre. Nunca precisara inventar sentimentos, eles fluíam, escorregavam sobre o corpo. Os pingos deslizavam, não pareciam caber. Um princípio assustado de vida, um susto que carrega a compreensão, o fulgor imortal que persegue a carne e seus traços desejosos. A insolúvel moradia, arrebatada pelo tempo, insuflada pelo sexo, aprisionando uma espécie de sorriso amarelo. A potência virgem do invisível agora era um peso insuportável, cru, mudo. Um riso roubado do infinito, numa impaciência tardia, susurrava a aura do que avançava à frente. A impermanência dos espelhos, dos reflexos, das sombras, dos vidros, dos cacos, da cama, a impossibilidade de habitar a própria chama, assisti ao parto da chuva e ver o primeiro relampâgo iluminar a face, escutando um velho bardo soar ao longe enquanto caminha de mãos dadas pela praia. À beira daquela imensidão obscura, catatônica em seus respiros, virara um pedante de si mesmo. E mendigava, mendigava em passos para o futuro. Respingava, escrevia seu diário de um dia só. 

Um comentário:

  1. Só pq eu adoro a maneira como tu descreves as sensações, perfeito! ^^
    Escreve logo esse livro pq eu vou ser a primeira a comprar! hihihi

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