sábado, 11 de agosto de 2012

Papel.


Mudam-se poucos hábitos. O passado, passando, e a gente andando como quem não quer nada. Grande parte das promessas são estrangeiras às próprias palavras ousadas que distraidamente repetimos no cotidiano. Muros que denunciam, palavras prostituídas, cerzidas do seu próprio espaço pela propaganda. O terreno baldio das ruas, e o seu impassível e irrevogável caminho. Os cartazes são lamentações. Um pouco mais prolixos, talvez menos chamativos, panfletos ríspidos são agitados nas sombras das árvores, formando um amontoado de papéis arremessados e amassados. Nas esquinas, nas curvas do asfalto, visões empoeiradas restam aos olhos. Um leve respaldo de ar fresco, um mínimo vento, e a poeira se agiganta pelo ar. Aos passos que ainda se aventuram em perpetuar pegadas invisíveis, folhas caídas, correntes de água que arrastam para o leito do esgoto urbano, que dilui à cada centímetro, os sentimentos dispersos à cada pisada. Na memória cruel, o caminho de casa! As casas espiadoras de homens. As idades andam. As cidades param. De tanto papel ambulante, as pessoas se fazem origamis. O suor sacrílego da carne, a percorrer a solidão da roupa. Errante. No longínquo das vicissitudes desse permeável dia, a escrita surpreende os inenarráveis que se amontoam em cada acontecimento.  A platéia dos papéis urbanos são as árvores. São elas que se curvam, que se prostram. Papel que nunca germinará, nesta terra infecunda!

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