segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Naquela Estação.

   

Há, pelo menos, formas menos fixas de se andar pela rua sem ser notado. Não passar é redundância. Porque não se fazer ali, é quase castigo ver tudo acontecer.  Sentado, no canto da parede, olhando tudo à sua volta se aproximar mais e mais. Ficando quase cego, ofuscado pela luz de um sol que teima em brilhar e dar cor. Amargura condensada, elevada à máxima potência vira tristeza. Uma longa olhada pelas dobras, das esquinas e das pessoas, o empoeirado vai cobrindo e dando forma a corpos de terra. De barro, modelados pelos abalos e encontros ao longo do caminho. A velha dor ajoelhada, minutada em guardanapos. Algumas palavras levadas ao bolso, outras soltas pelo asfalto. Às desafinadas, desavisadas e desajustadas esquinas, entrego meu silêncio e a súplica dos meus passos. Tortos, rotos. Clemência num beijo, choro num abraço qualquer. E fazer canto, e se demorar em ruas e andanças. Nessa dança da solidão, a rua guia apenas o olhar. Meio bêbado, quase caído. Quase sendo um passo, de chão tão perto. A sombra insone persegue e me beija. A moldura do porta-retrato, toda cinza, toda antiga. Toda velha. Seco, surdo e mudo, o dia assiste a caminhada . Me roubaram o amor-próprio, e foi por isso que amei. Por que não me tinha mais. Arrastava o tempo entre minhas falsas pernas, levava mesmo era os guardanapos minutados, e só. Na contramão, alguns vira-latas, lixo, asfalto, postes e iluminação. Alguns fogos, artifício, explodiram lá em cima. Me junto aos saudosos, borro o chão com alguns passos e, enfim, caio. Sou de barro, também! Me misturo ao chão, ao pó, ao relento renegado que pisam todos. Um pouco de fôlego, um pouco de embaraço. O próximo trem chega: a ausência me apanha, enfim. Borrado como o chão, parto no trem da ausência com as lágrimas servindo de aquarela para escrever na janela. Não vou apagá-las. Do outro lado, na estação, alguém pode entender como um aceno.

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