As palavras são a náusea do vazio. A solidão e a angústia, filhas da mesma substância escura da noite absoluta e impenetrável – esses dois sintomas da doença literária.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Anjo,
Num sobrado, uma sombra morava nas recordações carcomidas daquelas madeiras. O alaúde feito pelo pôr do sol, em meio a tantas placas e tantos avisos, era uma grande aquarela poeticamente pintada pelas cores que faltavam. Os movimentos imprecisos, movimentos de primavera pós-inverno, na casa fechada, habitada pela sombra. O vento em sopro, o corpo em brasa. Infausta, a sombra pisava em falso em cada recanto da casa. O passeio pelos cômodos não era cômodo. Pôs os pés na poeira, relanceou o olhar em direção a janela. Fechou as cortinas. Entortou o relógio, mascarou a cama.
Voltou a ser noite.
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