quinta-feira, 11 de julho de 2013

Ela se vestirá para mim neste festival.


Em silêncio, a voz embargada. Algo tão nosso que nem precisa invadir o mundo alheio para ser ouvido, ou sentido. No deslize dos sustos maquiados, a fumaça dos cafés quentes dispersando o tanto de frio. Os lábios finos contornando o cigarro, desenhando um batom inexistente que eu teimo em contornar. Fumo e aroma sustentando nossa névoa. Cenas diárias cortadas como um frame de um filme que vive em cartaz na antessala do amor. O vestido de rendas dá vazão à desejos: vazam meus olhos passeando desenfreadamente pelos traços do seu corpo vestido. Adentro seus poros, e me dispo - das roupas e das distâncias. Imerso já na saudade dos próximos instantes - não por antecipação, mas por nudez que desespera a própria solidão -, trocamos as bocas, sem mentiras. As línguas não professam, não falam: estão muito ocupadas no seio de suas próprias sedes. Os olhares se solubilizam, abandonados na liberdade sem fim dos solos de blues. Esculpindo a luz, porque até a sombra precisa dela para ser viva, com a fraqueza da certeza e a franqueza das mordidas, ela se troca. Se troca, se despe, se veste, se gargalha, se soluça, se versifica, se poetiza, se ama e me ama. Tanto. Nossa sinfonia de amor e pranto, nossas fotografias em branco espanto, nossas delicadezas atrevidas: tudo desabafado no decote dela e nos botões da minha camisa.

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