segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

De tudo, ao meu amor serei atento.


O amor varou meu corpo. Inflamou minha carne, queimou minha língua sem esperar o café. Borrou o guardanapo, apagou o nome escrito à lápis. Escaravelho, corroeu minha carne, passeou pelo corpo como fosse ele quem habitasse, não mais eu. O amor veio e varou o tempo.

O amor varou o tempo. Fez-me esperar em horas compridas para desfrutar algo que se dilui nos lábios em questão de segundos. Varreu todo o cotidiano, limpou as gavetas e - como grande físico - deixou escapar meu endereço. Comeu minhas fotografias, traça delirante. Mandou lembranças da minha certidão de nascimento. Não deixou nem a memória dos meus aniversários.

Até as receitas médicas levou. Dopou-se dramaticamente, devorou as bulas. Foi mais longe: teve sua overdose com meus romances. Até as minhas cartas, do baralho àquelas que ficaram rabiscadas atrás do diário, sua fome consumiu. Roeu a numeração da página dos meus livros.

O amor deflorou meus romances. Ele, sempre escondido, filho bastardo.

O amor fez de mim um suicida sem bilhete. 

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