terça-feira, 7 de junho de 2011

Esperança


Retratos estampados do amor, em preto e branco, fixados na parede. Revelando para sempre o orgulho apreciando a lente e tecendo malhas por toda a extensão do apartamento. Altivas miragens acabam por sobressaírem dos porta-retratos e iluminar os espaços escuros, os recônditos da alma e do espaço onde a alma se forja. O dentro de si próprio, o espaço. A contínua sensação de que a porta vai abrir e de lá vão irromper saudades em forma de abraços e desejos em forma de beijo. O eterno furor de esperar! Apreciam-se os sorrisos amarelos escondidos pelo emblemático silêncio das palavras escritas naquelas cartas. No amálgama das situações vividas em tão pouco tempo... E esperar faz desfalecer lentamente, levando à exaustão, se arrastando atrás de um motivo dito, oculto. Esperança esforça-se para seguir na espera e negar sua própria falibilidade. Inclina-se sobre os motivos que se levam sem voltar, se perdendo em meio ao luar. Esperar é uma homenagem a tudo o que passa. Procura alento nos últimos encontros, traçados pelo abandono. Imprime a própria negação do que acontece, e se pertence à solidão dos outros. Devolve a insônia passada por tantas noites a acreditar que não mais teria que relutar. E poderia encontrar a maciez de um colo que lhe acudira outrora! É excitante pensar na possibilidade de alguém à espera. Aquietavam-se as ilusões durante o sono, mas basta uma única imagem, uma representação, uma lembrança, e se mostra (de novo) a mesma marca pelo corpo e por tudo que se encarar com o olhar. Cabe em qualquer lugar o tamanho do nada que se encara sempre à lembrança.
    Ela segue sem ser vista, vai pelo que se deixa cair, vai como se estivesse escondida. E, no menor abrigo, ela surge como arte do sentido! As aspirações se encaixam magistralmente enquanto se articulam redes de esperança por trás da porta de entrada. E quando sai, escapa tudo pela mesma porta que ingressou, e fica só aquela visitante incômoda que sempre esteve à porta e nunca entrou. Seria impróprio perguntar-se o porquê dela nunca tombar e sempre vir quando nada mais parece sólido? Há poucos instantes onde se possa provar do ardor de não saber de outras pessoas. Aquela distância incômoda entre dois corpos próximos pela alma! Sem nenhum tipo de remédio ou discrepância qualquer, nenhum momento de sono ou de insônia, nem no meio de um simples piscar dos cílios, em cada olhar se encontra refletido aquilo que está em sua própria imagem. Um sem fim de imagens que cruzam as retinas e saem de lugar nenhum, como se fossem salamandras em meio ao fogo! Mesmo que poucas chances se tenham de ver esse apogeu de algo que se mostra, sempre se acha vendo o olhar de outra pessoa. Um giz, um gesto, um jeito, um convite exposto pelo silêncio e acatado pelo olhar. Nenhum ato, nenhuma palavra, só a leve sensação de que aquele ardor se encontra até no encontro, sem olhares. Só no convite. Só na tensão entre o chão e o abismo. Entre tantos passos dados, sem futuro, destino, ocasião ou parte equilibrada que demande um risco maior e desnecessário, diga-se de passagem. Procurando o efeito de ninguém notar, sem tempo nenhum para convencer nem mesmo ao gesto simples de se arrefecer diante de algo que não se quer ver ou ouvir. Só fechar os olhos já não basta, o corpo todo escuta.    
    Há ainda quem diga que pode se encontrar vestígios de tudo na ponta da língua, mas logo escorre entre os dedos, rápido como o fluir do rio ou devagar feito cola líquida. E se não fosse pelo movimento, muitas vezes repetitivo e com diferentes intensidades, a inércia paralisaria pra sempre aquilo ali na palma da mão, ou na ponta da língua.

3 comentários:

  1. Matheus tem o dom de descrever as coisas que as pessoas sentem, mas não explicam! Sério, como você consegue pegar um sentimento e levantar, não se todas, mas grande parte das dúvidas a respeito dele, de forma que quem lê acabe embarcando junto e, por fim, saia entendendo o que é realmente aquilo? Nossa, deu pra entender? Enfim, Parabéns!

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  2. meu primo sobrinho sempre surpreende desde o nascimento!!!! parabéns B1 ou... será B2?

    @HerickLevi

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