sábado, 11 de junho de 2011

Fotografia



Descongelam-se sensações das fotografias. A palidez contrasta com as fotos. Era divertido reunir todos os amigos ali naquela caixinha cheia de nuances de momentos passados. E senti-los tão próximos de si que quase era possível pegar na mão de cada um. O recorte da paisagem fundida com as lembranças trazidas à tona por aquelas imagens prostradas em papéis finos e suscetíveis a qualquer visão... As dissidências posteriores dos integrantes da imagem apresentada pareciam não acontecer, ou até acontecesse, mas em um outro plano, outro momento. Ali, se tinha a sensação de que iria se envelhecer junto! E hoje, olhar para aquelas fotos é imaginar que os corpos envelheceram com a mesma pessoa: a que vê as fotografias. Já tava tudo espalhado mesmo, é só sair juntando tudo pra dar aquela sensação de potência, de ser deus, e de recriar a história grafada naquele plano opaco. Opacidade redimida pela imagem, curioso! Como se não bastasse, a superfície é recalcada por traços estranhamente reconhecíveis. São como dobrados, que à medida que se vai desmontando, vai-se percebendo que, no final, tem o vazio. Um vazio perfectível, crível de ser perpassado por lembranças.
    Destituído de atenção, e talvez de seu próprio espaço, o olhar esconde os retorcidos prazeres encontrados em uma lenta exumação da imagem percebida ali, naquele instante. Trazendo à mostra a solidão de quem olha uma fotografia antiga, as bordas carcomidas, a ação lenta e corrosiva que vai retraindo o próprio esforço, até chegar ao seu limite. A menor variação do olhar na foto, já estimula o ambiente a querer comportar-se tal qual o que está sendo visto. Reviver não seria possível, não nas mesmas circunstâncias. A preocupação estende-se em não deixar de lado qualquer elemento que não esteja ali, em vista. A segurança da qual é dotada a fotografia a faz ser separada de todo o passado na qual foi preparada. É um momento único, e por isso, acaba se desgarrando do contínuo. O vigor apresentado deixa de instalar-se numa categoria essencialmente romanesca para deixar cair em si todo o peso da expressão! Tem-se a impressão de que uma foto “salva” o dia. É aquela certeza característica, encontrada e ancorada nos momentos mais marcantes da existência fatídica de uma fotografia. Uma fotografia pode não ser mais do que uma ponte. Ela pode ser, simplesmente, profecia.  

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