sábado, 18 de junho de 2011

Noite de Fumaça


Intensa e breve, feito fumaça. Caiu com a chuva, apagou as luzes e sentou-se lá fora. Fora um assentamento. E a névoa delineava traços entre pingos, eu desejava um corpo próximo, um fervor, um torpor deslizava em minhas carências. Eu refletia nos pingos, na água, nas poças. Meu olhar bêbado consumia a noite espectral que insisitia em passar pela janela do carro. Os postes cortejavam, as árvores gotejavam. As esquinas dobravam as pessoas, e eu segui no meu passo tímido, lembrando "Construção", de um Chico que aniversaria. E eu me encontrava nas primeiras horas de seu aniversário, no seio da noite procurando um leito. E em meu leito, procurando o seio de um corpo. Um corpo que me invadira, me sobressaltara e me assustara com seus desejos carnais tão expostos, que nem um banho gelado conseguiu diminuir a ânsia. Borrava meus traços e recendia à pesadelo. Meu próprio odor, que dizimava e dilacerava as vísceras que tentavam se fixar. Os pingos pulavam, fazia torvelinho de meus lençóis e atirava-os nas poças. Queria encobrir meus desejos, mas o lençol é transparente. E nem me cobriu, nem à poça. Nem a água. Só a chuva escorria. Nem a louça. Nem a pia. Só quero a moça. Aquela, doce, que me beijou a boca. E me deixou estúpido, pela noite rouca.

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