segunda-feira, 17 de setembro de 2012

São Paulo II - Amores Escancarados.


Angustio-me andando por São Paulo. Como se eu fosse encontrar algo que me esperasse ao dobrar a próxima esquina. A cidade é habitada por um sentimento inacabado, disperso por cada centímetro de asfalto. Andando na famosa Avenida Paulista, me dei conta do sentido que estava tomando, aqui. O olhar vai se movendo por sobre as coisas, nas pequenas pausas (causas perdidas..) vai entrando em cada poro, tomando conta da sensação imóvel que me surpreende: os afetos humanos são provocadores. A urbe toda é uma grande provocação, quase uma afronta.  Não há lugar para palavras. Olhares nada inquisidores, perdidos atrás de frondosos óculos escuros, a escuta limitada à dois fones de ouvidos interligados pelas mais diversas cores, e uma velocidade impregnada em cada passo – o medo absoluto impera. Ninguém se encara, nem aos outros. Passam desapercebidos, receando um encontro total e avassalador que mudará completamente o rumo do dia, ou quem sabe da vida. Passando na frente do MASP, uma fila enorme pra entrar. Perguntei-me o que eles veriam em museus. Apesar da capacidade interventiva trazida pela própria disposição espacial, e das pinturas e curvas que até a geometria não-euclidiana se espantaria, a paixão acendida na metrópole não é, nem de longe, pela diversidade humana. É qualquer coisa entre o possível e o provável, o temor daquilo que pode ser realizável aqui. Não cabem amores impossíveis, aqui. São Paulo é feita de amores e possíveis.

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