Angustio-me
andando por São Paulo. Como se eu fosse encontrar algo que me esperasse ao
dobrar a próxima esquina. A cidade é habitada por um sentimento inacabado,
disperso por cada centímetro de asfalto. Andando na famosa Avenida Paulista, me
dei conta do sentido que estava tomando, aqui. O olhar vai se movendo por sobre
as coisas, nas pequenas pausas (causas perdidas..) vai entrando em cada poro,
tomando conta da sensação imóvel que me surpreende: os afetos humanos são
provocadores. A urbe toda é uma grande provocação, quase uma afronta. Não há lugar para palavras. Olhares nada
inquisidores, perdidos atrás de frondosos óculos escuros, a escuta limitada à
dois fones de ouvidos interligados pelas mais diversas cores, e uma velocidade
impregnada em cada passo – o medo absoluto impera. Ninguém se encara, nem aos
outros. Passam desapercebidos, receando um encontro total e avassalador que
mudará completamente o rumo do dia, ou quem sabe da vida. Passando na frente do
MASP, uma fila enorme pra entrar. Perguntei-me o que eles veriam em museus.
Apesar da capacidade interventiva trazida pela própria disposição espacial, e
das pinturas e curvas que até a geometria não-euclidiana se espantaria, a
paixão acendida na metrópole não é, nem de longe, pela diversidade humana. É
qualquer coisa entre o possível e o provável, o temor daquilo que pode ser
realizável aqui. Não cabem amores impossíveis, aqui. São Paulo é feita de
amores e possíveis.
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