domingo, 16 de setembro de 2012

São Paulo I - A Cidade Sitiada.

Pouco sono, pouco cansaço. Num dia, ver o sol se pôr na estrada, chegando na cidade onde nasci. Nas próximas horas, vê o sol nascer acima das nuvens. Recife é uma cidade pra ser vista de cima, de madrugada, iluminada pelas próprias luzes. Mal dormir, ansiedade e amor correndo nas veias: o avião pousa em Guarulhos, estou na primeira cadeira do avião. Fui um dos últimos a entrar na aeronave, e o primeiro a dela sair. Eram 6:34, exatamente. O aeroporto me ofereceu espaço pra um café. Minha mala demorou a aparecer. Mas eu olhava São Paulo de dentro pra fora, como quem descobre um novo mundo. Ou um mundo novo. Caetano está certo: em Sampa, você se sente conectado com o planeta. Singularidades, pseudo-intelectuais, jovens cansados das mesmas caras cheias de maquiagem, cults ou nem tanto, o fato é que é uma cidade sitiada. A teia humana, vista de perto, é uma monstruosidade. Parece não haver espaço pra tanto corpo junto. Eu me assusto fácil com essas coisas. São Paulo consome os sonhos, devora todas as possibilidades. Arte espalhada pela cidade, qualquer canto é alvo fácil de intervenções. Até as pessoas: verdadeiras pinturas transitam entre as ruas, os carros. O tráfego humano parece se igualar ao tráfico de exigências informais que assola a cidade. Observando os tipos humanos daqui, chega-se numa conclusão óbvia: não há um jeito paulista. É um caos. Os mais precipitados poderiam pensar, ao ler tudo isso: 'São Paulo é uma cidade para todos!'. Não, é o contrário: São Paulo é uma cidade para poucos. Eu não estou incluso nestes poucos. Alto aqui do 15° andar, vejo a noite cair. Cair aqui é explodir a concretude: é viver a intensidade e a efervescência dos amores escancarados.

Um comentário:

  1. Muito bom, Matheus! Lugares diferentes nos dá a oportunidade de olhar pessoas por outro ângulo. Um pedido: seja generoso com as pessoas de mais idade e pouca vista: aumenta o tamanho da fonte do texto!!!
    Beijos da tia

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